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quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Base empírica e base teórica. Divagações.


'Opinion Paper' da matéria de metodologia de pesquisa, da UnB.


A existência da base empírica e da base teórica de uma pesquisa está sujeita ao que é escolhido como objeto de pesquisa e como metodologia, além de sofrerem também influência direta do conhecimento empírico do pesquisador.  Não podemos considerar as bases como sendo o próprio objeto ou a literatura a seco, mas sim os dados absorvidos e utilizados destes, que são instrumentos para a construção das bases. Grosso modo, a base empírica vai se definir principalmente pelo objeto a ser estudado e um fenômeno que ocorre com este, enquanto a base teórica será definida pelo que se entende que irá explicar o fenômeno sofrido por estes objetos. Poderíamos supor então que uma pesquisa se inicia sem a base empírica e teórica, mas sim apenas com as ferramentas necessárias para que se completem durante a própria pesquisa? A base teórica e empírica são instáveis e sofrem com a interferência do pesquisador?
A base empírica é estruturada sobre o objeto a ser estudado e seus métodos de extração de dados. Podemos dizer que a base empírica então está acima do objeto e da metodologia, e que é resultado da fusão destes dois elementos da pesquisa. Ao conhecer o objeto, o pesquisador se apropria de suas características, como diz Amado Cervo, conhecer é uma relação que se estabelece entre o sujeito que conhece e o objeto conhecido, neste processo o sujeito cognoscente se apropria, de certo modo, do objeto conhecido. (CERVO, 2002. p.7). A partir deste conhecimento do objeto, mesmo que superficial, é identificado, ou suposto, um fenômeno que ocorre com este, são propostos então métodos para que se subtraiam dados do objeto e do fenômeno, que serão utilizados na pesquisa. Estes dados, advindos de experiência própria e observações “in loco”, podem ser considerados a base empírica, que só irá completar seu ciclo na conclusão da pesquisa.
Já a base teórica será alçada pela tendência do pesquisador ao entender o objeto e seu fenômeno. Cada pesquisador terá uma visão diferente do fenômeno e do que se entende por objeto, podendo ser visões semelhantes, mas nunca iguais. A partir desta visão, o pesquisador irá traçar uma linha de conhecimento já construído por outros pesquisadores. Cada linha dessas já foi testada e construída nos moldes aceitos atualmente como confiáveis, portanto, são embasadores aceitos cientificamente, para que forme a base teórica de seu projeto. A escolha do que será abordado pelas teorias utilizadas é completamente arbitrária, pode-se ignorar um lado que não se adequa tanto ao projeto, assim como adicionar algo que não contribui tanto para a pesquisa em si, assim como obrigar a citação de autores tidos como “referências” no assunto. Mesmo assim, tão inconstante, poderá estar dentro dos moldes aceitos, retificando o dito de que “a ciência pode ser usada para provar qualquer coisa”, mesmo que seu papel não seja provar coisa alguma.
            Em meu projeto, proponho o estudo de métodos de preservação de suportes de som. Ora, ao escolher o objeto de estudo (suportes de som) e os métodos de análise (generalizando: estudos de métodos de preservação), defini rumos para minha base empírica, mas não a própria base. Foi uma escolha arbitrária do objeto e do método, baseada em meus conhecimentos pessoais e no que poderia ser feito sobre o fenômeno da degradação destes suportes.  Mesmo se eu seguisse tendências estruturais contemporâneas científicas, meu projeto jamais seria replicado por um segundo pesquisador que seguisse a mesma estrutura de objeto e métodos.
            A base empírica deste projeto é formada pela interpretação dos dados que extraio do objeto, por meio dos métodos escolhidos e do meu próprio conhecimento empírico.  Esta interpretação é pessoal, assim como a escolha do objeto e dos métodos. Após me ‘apossar’ das características do objeto, poderia dizer, por outra ótica, que minha base empírica consiste em discos de plástico, fitas e discos de gravações analógicas, ou algo parecido, mas, de acordo com meu conhecimento já construído, e após me integrar ao objeto posso afirmar, com maior convicção, que minha base empírica é formada pelos suportes de som. Vejam que não consiste em dizer o objeto cru apenas, mas sim uma interpretação deste.
A base teórica do meu projeto é também arbitrária, por escolha e limitações pessoais, e por um senso comum da área, que delimita o campo de pesquisa e atuação. Poderiam até serem selecionadas outras fontes para justificar meu projeto, citando, por exemplo, as teorias química como fator definitivo para a questão de preservação, e até certo ponto o é, mas dentro da escola onde estou inserido, a base é outra e a complexidade química é complementar a esta base, sendo tratada superficialmente.
Podemos entender então que a base empírica e a teórica são mutáveis e instáveis, apesar de serem baseadas comumente em objetos concretos e textos já ‘consagrados’ cientificamente, pois vão sofrer ação direta do empirismo do pesquisador e seu universo acadêmico. Sendo assim, duas pesquisas, de mesmo objeto, método e base teórica, se feitas por pesquisadores diferentes, com certeza chegarão a resultados diferentes, talvez similares, mas nunca iguais. Quiçá esta assertiva possa servir até para a mesma pesquisa por um mesmo pesquisador, mas em tempos diferentes, provavelmente também sairão resultados distintos, pois seu empirismo também estará modificado, mais completo na segunda pesquisa que na primeira. A pesquisa sofre influência do pesquisador, e esta também o modifica.